quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ciclo de Debates sobre Comunicação em Campinas

Olá amigo,
Colaborei na organização do Ciclo de Debates sobre Comunicação, na Câmara Municipal, junto com o Sindicato dos Jornalistas e Associação Campineira de Imprensa. Fiz uma matéria para resumir o que foi debate. Este evento deu o pontapé inicial nos debates sobre comunicação em Campinas e região. Foram mais de 100 pessoas inscritas e, muitas, de outras cidades, como Limeira, Hortolândia, Americana, Lorena.
Acredito que o resultado foi muito positivo.
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Ciclo de Debates sobre Comunicação
inicia debate sobre Conferência

Os três sábados e seis painéis do Ciclo de Debates sobre Comunicação – “Na Construção da Cidadania” realizado no Plenário da Câmara Municipal de Campinas, dias 16, 23 e 30 de maio, revelaram uma grande expectativa e esperança para que pelo menos entre na pauta de discussões do País a democratização dos meios de comunicação com a convocação da Conferência Nacional de Comunicação, agendada para dezembro. O Ciclo, organizado pelo gabinete do vereador Sérgio Benassi (PCdoB), pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e pela Associação Campineira de Imprensa (ACI), apoiado pela Câmara, teve o objetivo de trazer à pauta de Campinas e cidades da região a importância da conscientização sobre os temas que farão parte da Conferência e da necessidade de unir forças em torno de um projeto em comum que beneficie toda a sociedade.

Desde o primeiro dia, especialistas de diversas áreas, como professores, jornalistas, representantes de entidades civis e profissionais e do movimento popular destacaram que o Brasil vive sob uma forte concentração dos meios de comunicação: jornais, rádios e canais de televisão. Apenas seis famílias (Civita, Marinho, Frias, Saad, Abravanel e Sirotsky) concentram uma enorme parcela dos veículos de grande circulação e controlam as informações no País.
A conclusão dos movimentos organizados e dos especialistas que participaram das mesas de debates é que é necessário conscientizar a população de que comunicação é direito e um serviço público explorado pela iniciativa privada, que precisa de liberdade mas também de controle social para ser uma ferramenta de elevação da cidadania e de desenvolvimento nacional.
O vereador Sérgio Benassi (PCdoB) destacou na abertura do evento que a democratização das informações e dos meios de comunicação é necessário para o fortalecimento da democracia e da elevação da cidadania do povo. “Organizamos este evento com intuito incluir os cidadãos de Campinas e Região nestas discussões tão importantes para a nossa democracia”.
O jornalista Altamiro Borges, Secretário Nacional de Comunicação do PCdoB e editor da Revista Sindical, definiu a comunicação como direito humano, assim como a Saúde, Educação e Cultura. “Não se avança na democracia se não se democratiza a informação e os meios de comunicação”, avalia.

Debates
O Ciclo de Debates sobre Comunicação percorreu em seus seis painéis diversos temas ligados à área, mesmo assim não conseguiu abarcar todos os meandros deste tema tão complexo, que envolve poder, controle da opinião pública e direitos.

No primeiro sábado, de manhã, aconteceu o painél Comunicação na Construção da Realidade Social – Discursos e Disputas pela Hegemonia, que tratou sobre como a grande mídia pode construir ou destruir conceitos e ideias, ditar a agenda política do País e do mundo. Grandes conglomerados de comunicação tem determinado quais são os temas importantes ou o que a humanidade deve pensar sobre eles. Muitos exemplo foram citados, como a invasão do Iraque, cuja mídia “vendeu” a ideia de que existiam planos e armas químicas que seriam usadas contra os EUA e, depois, foi desmentido. O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Al Zeben, jornalista que fez parte do debate, destacou que a mídia forma uma imagem ruim em relação ao seu povo, colocando na cabeça das pessoas que palestinos são terroristas e que a construção de um muro que os separam dos judeus, em Gaza, por exemplo, é necessário.

A professora de Análise do Discurso do Labeurb e Labjor/Unicamp, Eni Orlandi, apontou que a mídia vive uma síndrome do óbvio e da repetição. “A informação é controlada pelo poder econômico. As informações são repretidas em vários veículos. Vivemos um Jornalismo do óbvio e reptitivo”, destacou.

No painel Imprensa Regional na Construção da Cidadania – Sotaque Local, Visão global, houve a participação de representantes das principais empresas de comunicação da região: RAC e CBN, além da professora e jornalista Graça Caldas, da Unicamp. Edilson Damas, da CBN, destacou a importância de discutir a regionalização das verbas federais para publicidade.

Novas mídias
No dia 23, de manhã, o debate girou em torno da Convergência Digital (TV digita), Novas Mídias e Internet – Como a Democratização do Meios Digitais Podem Construir a Cidadania. O professor da Unip e ex-diretor da TV PUC, José Dias Paschoal Neto, fez uma exposição técnica das possibilidades da nova tv que está sendo implantada no País, que, segundo ele, ao que tudo indica abriga condições técnicas mas não terá multiprogramação. Ou seja, da maneira que foi distribuída para as atuais concessionárias – uma banda que pode ser dividida em seis – possibilita a multiprogramação, mas não obriga as emissoras em produzi-la, segundo Paschoal.
Segundo verificaram os especialistas da mesa, o problema está no fato de que as empresas de radiodifusão do País concentram a transmissão e a produção de conteúdo, impossibilitando a criação de um mercado independente de produção de conteúdo.

Esta é a opinião do professor da Unesp, Juliano Maurício, que é um especialista no assunto e participa das discussões sobre o tema desde a década de 1990. Ele ressalta que a discussão sobre o padrão de tv digital passou à margem da sociedade e acabou sendo ditado pelas organizações Globo.

Mas há muito por se fazer ainda na base de discussão sobre acesso às novas tecnologias. Francisco Pereira, presidente da Associação de Moradores do Parque das Flores, na região do Campo Grande, colocou uma pergunta singela aos palestrantes: “Como eu faço para levar banda larga para a minha comunidade?”.

O diretor da Informática de Municípios Associados (IMA), Marcelo Pimenta, afirmou que quando já se discute convergência digital ainda há dificuldade de levar os serviços básicos de acesso à internet à toda população. Este é um dos gargalos a serem vencidos pelo Poder Público. Uma das reivindicações que surgiram no debate foi a possibilidade de acesso gratuito à internet para toda a cidade de Campinas.

À tarde, a discussão foi sobre Censura, Controle Social, Lei de Imprensa e Liberdade de Expressão – Como a Sociedade Pode Construir uma Mídia Mais Cidadã. O jornalista e representante da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Rodolfo Konder, e o jornalista e cientista político, José Roberto Espinosa, falaram de suas experiências de luta pela liberdade de imprensa e expressão e de como foram punidos pela Ditadura com prisões e torturas por isso. Espinosa ainda lembrou que foi vítima da Folha, que fez uma reportagem sobre o grupo guerrilheiro VAR-Palmares, que liderava, distorcendo informações para prejudicar uma possível candidatura da ministra Dilma Roussef à Presidência da República.

O representante da Federeção Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Carlos Torves, destacou que foi um avanço o fim da Lei de Imprensa, criado durante a Ditadura, mas ressaltou que é preciso regras de controle social da mídia e regulamentação sobre o exercício do Jornalismo. Preocupação compartilhada pelo advogado Pedro Maciel, que fez parte da mesa de debate, e afiançou a necessidade de uma nova lei de imprensa, mas que neste intervalo sem lei específica, alguns direitos podem ser preservados pelo Código Penal, nos itens que tratam de injúria e difamação.

Contra hegemonia
No último sábado do Ciclo de Debates sobre Comunicação – Na Construção da Cidadania o painel da manhã tratou da Participação Social na Comunicação – Meios Alternativos e Especializados, Rádios e Tvs Comunitárias. A professora Cecília Peruzzo, da Faculdade Metodista de São Paulo, destacou a importância do fazer tv comunitária pela própria comunidade, “onde as pessoas podem se identificar”. Ela avalia que atualmente a TV aberta massifica a imagem de uma sociedade e um povo diferentes da realidade brasileira.

Célio Turino, do Ministério da Cultura e responsável pela criação dos Pontos de Cultura no País, destacou a iniciativa como ferramenta de comunicação contra hegemônica, em que a comunidade recebe condições de fazer sua própria comunicação e projetar sua própria cultura. Ele explica, que há uma grande rede sendo formada em todo o País criando uma mídia popular e alternativa aos grandes meios de comunicação.

As rádios comunitárias também têm feito este trabalho de resistência. A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço), representada por Jerry Oliveira, revela uma distorção no Estado brasileiro, que por um lado incentiva a produção das rádios populares, como o Prêmio de Mídia Livre, patrocinado pelo Ministério da Cultura, e fecha rádios comunitárias por ordem da Anatel e Minstério das Comunicações.

Todos os participantes concordaram que é necessário uma revisão nas concessões de rádio no País, democratizando-as, pois hoje elas acabam virando moeda de troca e vão parar nas mãos de políticos ou pessoas ligadas ao poder local, regional ou nacional.

O evento foi finalizado pelo debate sobre a Conferência Nacional de Comunicação – Participação da Região na Construção da Democratização da Comunicação, ocorrido à tarde. O tema é instigante porque é o que deve mobilizar a sociedade organizada para o evento convocado pelo Governo Federal para dias 1 a 3 de dezembro deste ano. Particparam desta mesa Sindicato dos Jornalistas, Fenaj, Intervozes, ACI e Abraço.

Apesar do previsão de que não haverá uma revolução na democratização dos meios de comunicação, os debatedores concordaram que é um avanço a realização da Conferência Nacional de Comunicação. “Ela vai colocar o debate sobre o tema em pauta, o que antes nunca aconteceu”, destacou Guto Camargo. Para Bia Barbosa, da Intervozes, a Conferência é uma conquista da pressão dos movimentos sociais, que vêm há anos reivindicando um evento deste tipo. Segundo Jerry de Oliveira, da Abraço,há acúmulo suficiente para os movimentos sociais possam contribuir no avanço das discussões sobre a democracia nos meios de comunicação.

Um comentário:

  1. Olá Gil, muito bom esse blog, venha se juntar a nós numa proposta de rede social sobre comunicação em Campinas. O debate sobre a democratização deve ser central lá. Podemos também linkar seu blog na rede.
    o endereço é comunicacaocampinas.ning.com

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